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Bonjour!

Sim, eu sei, eu sei....prometi escrever aqui tudo o que iria se passando comigo durante toda a viagem, mas aconteceram tantas coisas que mudei de idéia no meio do caminho - sem contar na preguiça que dá de sentar aqui e escrever...rs. Enfim, mudei de ídeia e comecei a escrever um diário físico mesmo, e ali eu posso escrever o que eu bem quiser (mesmo), sem me preocupar com nada e com ninguém. Mas de todas as maneiras, prometi escrever aqui - e venho sendo cobrado, não é Dra Laís Rosati!rs (mesmo depois de mais de 3 meses...)

Alors, quero falar um pouco sobre o que tenho passado aqui na França e como alguns pensamentos e sentimentos começaram a mudar. Na verdade, isto será um desabafo escancarado.


A vida aqui é muito diferente daquela que levava no Brasil (jura?!). Tinha minha rotina como Advogado; dava aulas na Faculdade; tinha minha rotina na igreja; dormia na casa dos pais, comia a comida da mamãe, tinha cama-comida-roupa lavada....Aqui, sou mais um estudante estrangeiro, que mora sozinho, que fala a língua com sotaque, que tem que lavar-passar-cozinhar-limpar a casa-fazer compras...enfim, é uma coisa muito diferente. A o detalhe das "humilhações", mais ça arrive. Aujourd'hui c'est ne pas grave.

Uma coisa que tenho experimentado aqui (e isso tem sido uma experiência muito ímpar) é o "fazer (e ter) amigos". Primeiro, fazer (e ter) amigos franceses é a coisa mais difícil aqui. Somente após 2 meses e meio na França é que comecei a ter amigos franceses (da minha idade), e mesmo assim é difícil ganhar a confiança deles. Em compensação, tenho muitíssimos amigos não-franceses: mexicanos, colombianos, austríacos, espanhóis, venezuelanos, guatemaltecos, chineses, árabes, iraquianos, palestinos, nepaleses, irãnianos, noroegueses, alemães, italianos, africanos, americanos, gente de kosovo (sim, não faço idéia de como se chamam aqueles que nascem em kosovo), russos, brasileiros (mas destes estou fugindo, tenho 2 amigas somente - isso porque aqui tem mais brasileiro que formiga) enfim, de uma série de países que acredito nunca vou se quer visitá-los, muito menos saber que um dia poderia conhecer alguém de lá. Nesta parte não posso reclamar, mas estas amizades são "diferentes". A maioria delas tem dia e hora para "terminar". São amizades "necessárias", ou seja, "fazemos" porque precisamos fazer amigos (tanto para nos ajudar quanto para passar o tempo), mas elas tem dia e hora para terminar porque cada um aqui tem sua história, seus sonhos, e um dia vão retornar, cada um para seu país e sabemos que essa "amizade" será diferente à partir de então, e o contato diminuirá até o dia que uns e outros serão "mais uma pessoa adicionada em seu facebook". Muito estranho isso. Mas como o cliché francês já diz tudo: "c'est la vie, ça arrive".
           
Sinto muitas saudades do Brasil...é interessante como a frase "só damos valor quando perdemos" se torna uma realidade brutal. Sinto saudades das coisas mais bobas, das quais estava tão acostumado a fazer e a ter que nem as valorizava, como: dormir no sofá da sala num domingo a tarde, com a TV ligada, tendo minha irmã deitada num sofá e eu em outro...parece bobagem, mas os domingos aqui são tão chatos (ainda mais agora, com o frio) que sinto falta de coisas assim. Sinto falta de um belo pastel de feira num sábado e encontrar um amigo na feira; de dirigir meu carro voltando da casa de minha avó; de trabalhar no escritório; de ver minha mãe ao acordar; de saber que ao acordar iria econtrar com ela; de conversar com meu pai sobre um monte de coisas num almoço; de ir a igreja no domingo e ter todas aquelas tarefas que - por muitas vezes - as fazia "reclamando" que não tinha tanto tempo aos domingos..agora tenho tempo de sobra e me faltam coisas para fazer. Enfim, foi uma escolha minha e não me arrependo de ter-la feito, mas não se pode negar que sinto falta do meu cantinho.

Aqui tenho vivido experiências ótimas, claro, não é só peleja! Além do fato de poder conhecer muita gente e diversas culturas, viver aqui me proporciona outras visões. Dizem que experiências deste tipo nos ajudam a amadurecer. Até acredito nisso, mas olhando pra mim não sei exatamente mensurar se houve melhora ou não...creio que esta resposta me será dada pelas pessoas que estão observando essa minha história...
Bom, no resto as coisas estão caminhando...aguardando o próximo ano que, creio em Deus, acontecerá muitas coisas boas! Mas calma, eu volto ainda aqui esta semana. 
Bonne journée!

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